Este ensaio "fala" da palavra, ou do silêncio gestualizado.
Transcritas de angústias, denúncias foram gravadas em espaços que revelam a ação do tempo. Como em algum momento estas caligrafias seriam desapropriadas de seu ambiente, a fotografia surge resgatando estas letras que expõe o anonimato e seu entorno exaurindo-se em pó de lágrimas; mas num último fôlego as imagens captadas e remixadas ecoarão realocando sua mensagem ao planeta, resignificando-se entre outras vozes dispersas que não deixaram calar.
        VINDE A VOZ – Imagens nunca foram tão caras ao mesmo tempo que tão públicas: custam tanto empenho dos RP para midiatizar seus clientes e a gente comum as oferece indistinta e gratuitamente pela web detalhes íntimos do dia-a-dia familiar… mas nem tudo são imagens. Estas são ferramentas etéreoeletrônicas contemporâneas, de acesso cada vez mais amplo mas ainda distantes da maioria da gente sem voz, que não foram educados pelos corretos maus modos virtuais. Resta-lhes o manifesto, onde e como for, deixando um sinal de que ainda respiram e interagem, são parte, não aceitam ser apenas réus e clamam ação civil. O "Todo" que entenda a mensagem, resmungue, ria e espume, discrimine e criminalize, arranque a placa, repinte o muro. Mas será obrigado a pensar agora, e quem sabe sentir amanhã, quando ruminar, o que está em (de)curso na Terra.
       Manifesto: verbo, adjetivo e substantivo. Com as mãos limpas e entintadas, uma pessoa do singular torna patente e notória uma declaração, expondo publicamente pela escrita a passagem do pensamento. Ele não está mais lá e o fotógrafo iconizou seu sinal, mas o autor fez-se pronunciar… fará entender? Talvez não importe, este ser de fato esteve ali, marcou seu corpo, verborreagiu delicadamente sua raiva, com cuidado avisou, solicitou clamando. Citou, versou, orou. À vós pertencerão essas palavras lidas em silêncio, pois em vosso íntimo renascerá a fala destes inimagináveis.
 

2005–2016 | Impressão de pigmento mineral sobre papel de algodão e dye-transfer sobre tecido voil | 120×80cm | Edição de cinco