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       Este work in progress apresenta resultados da minha pesquisa sobre a imagem digital em sua ontologia: o que esconde o arquivo binário fazendo-a própria e não replicadora do referente. Investiga seu “firmware”. Descobrindo ou acobertando o mapa de pixels por peeling (na subsérie ‘Invisíveis’), layering ou sampling, driblando tempo e espaço, esta série investiga planos de percepção digital seja pela demolição e recuperação de seus blocos constituintes (na subsérie ‘Glitschig’) ou pela reconstrução algorítmica de seus clusters (na subsérie ‘Ante-céus’).

       Realidade: uma infindável teia de possibilidades sempre vivas – mesmo que “congeladas” pelo aparato técnico – descascando retinas, revelando camadas na re-visão da imagem tombada (em ‘Luzes ’ e ‘Nervos’), ou pela desconstrução da linguagem no processo de captura (em ‘Águas’ e ‘Diverção’). O potencial oculto do arquivo digital explicita a complexidade do real além do mero espelhamento – acima do verdadeiro/ certo × falso/ errado – mais do que apenas a inerente possibilidade técnica de manipulação da imagem.
       Da subsérie ‘Ante-céus’, as obras ‘Mammatus clouds in San Antonio’, ‘Undulatus Asperatus in Scurry’, ‘A perfect storm of turbulent gases’, ‘A Grand Extravaganza of New Stars’, ‘Eagle Nebula’, ‘Crab Nebula’ e ‘Moon False Color Mosaic’ foram construídas à partir de apropriações de imagens sob licença Creative Commons, produzidas pela European Space Agency, NASA e usuários da Wikipédia. Num primeiro momento os dados destas imagens-base foram extrapolados para fora de seus recortes originais através de algoritmos de reconstrução estrutural, para à seguir da eliminação da "fonte" ter seu referente recriado de fora para dentro, tendo como referência a sintetização anterior.
       ‘Águas’ é composto por duas imagens captadas da mesma posição, uma seguida à outra, com os mesmos níveis e leituras de luz, mas com diferença na velocidade de captura entre elas de 22× (o suficiente para alterar seu "movimento" estático) e com parâmetros de matiz ajustado com critérios diferentes durante a ingestão do arquivo.
       ‘Luzes’ surge do mesmo arquivo interpretado de duas formas diferentes, um procurando espelhar o que parecia mais natural, e o outro com recuperação tonal e cromática das altas luzes sob forma extrema: o real e a realidade colocados lado a lado.
       ‘Nervos’ também tem como base um mesmo arquivo, desta vez sendo revelado (nome que se dá à conversão do arquivo crú binário para o formato visível de imagem) dando-se atenção apenas aos micro-contrastes, no centro da gama tonal, rebaixando-o à ponto de simular o efeito de velocidade lenta; o balanço de branco também foi interpretado livremente, adequando-se à percepção resultante.
       Em ‘Diverção’ (um neologismo para ‘contraste’) duas diferentes condições de luz, uma com incidência vertical do sol ao meio dia e a outra suavizada por uma fina nuvem, destacam a sutileza tonal que a luz pode dirigir desenhando as formas, sob a pena da carta de contrastes em suas bordas.
       Na subsérie ‘Invisíveis’ foram feitas duas fotografias, um com o personagem contextualizado e a outra apenas do seu ambiente, tiradas exatamente da mesma posição. Empilhou-se as fotos no editor de imagem solicitando-se a operação de diferenciação, tendo como resultado as pessoas retratadas apenas em sua informação cromática com contornos aleatórios dos objetos de cena, oriundos de vibrações imperceptíveis do solo entre a primeira e a segunda tomada.
       A subsérie ‘Glitschig’ é o resgate parcial do arquivo corrompido por uma formatação acidental do hard disk onde estava armazenado; em parte recuperado via software, apresentou-se o glitch da alteração aleatória do código-fonte original. 

 

2003 a 2015 | Impressão de pigmento sobre papel | Solos, dípticos e trípticos | formatos variados | Edição de cinco.

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